“e se houvesse ainda e sempre e somente palavras”
Ana Paula Lobo sussurra para o visitante e pergunta: quem escreve a história? Qual é a verdade que está nos livros? As receitas do manual de artista farão de você um artista? Como uma artista começa a escrever?
Os trabalhos expostos aqui começaram a ser produzidos quando Ana Paula desenvolvia uma pesquisa acadêmica. Ela precisava redigir um texto e buscar as referências dos livros. “E se houvesse ainda e sempre e somente palavras”. O resultado é outra escrita. A narrativa é construída por elementos liliputianos. As palavras tornam-se imagem, vídeo, pintura, livros de artista e objetos em tamanhos reduzidos.
O título da exposição oferece uma pitada ficcional para as experiências contemporâneas. A frase é uma citação do romance um tanto autobiográfico de Umberto Eco: A Misteriosa Chama da Rainha Loana. Livro sobre um livreiro que perde a memória das suas relações pessoais, mas se lembra de personagens e acontecimentos literários.
A exposição nos faz refletir sobre o espaço e o tempo da overdose de imagens e informações. Sobre pilhas de livros, uma menina dorme. Do outro lado, a mesma menina está de castigo. Sua cadeira está também numa miniatura repleta de letrinhas. Letras que se tornam objetos dentro dos livros. Livros? História? História da arte?
As videoinstalações De Castigo e Sono do Saber misturam performance, registro em vídeo, incrustação em chroma key e objetos. As pequenas imagens expandem o tempo, congelam o movimento, reorganizam e sensibilizam o espaço. Em vez de convidar o espectador para um processo de imersão tal quais as grandes instalações, esses trabalhos propõem uma situação inversa. O visitante da exposição é chamado para olhar o detalhe, a delicadeza. E cada um constrói sua história, que pode ser pessoal, da arte, ou, melhor, as duas juntas e ao mesmo tempo.
Ananda Carvalho
Crítica de arte, curadora e professora
Doutoranda e Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP)
segunda-feira, 28 de março de 2011
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